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    Delusório


    DELUSÓRIO

    Palmeiras azuis ululam na manhã fria, sua cor suave em contraste com o céu ainda violeta, impregnado pela atmosfera noturna. Numa fila indiana quase perfeita, à beira-mar, elas sussurram segredos desapaixonados e promíscuos, contaminando a grama e a areia com seus risos e suspiros.

    Não há ninguém ali, porém, para presenciar a conversa das palmeiras azul-gelo-esverdeadas, só uma estrada de ferro feia e gemente, há 200 metros de distância da fileira de palmeiras, com mato alto crescendo a sua volta, invisível para qualquer um que atravessasse aquele descampado. Mas havia, porém, aquele misterioso ecossistema invisível, que cricrilava, pululava e cantava toda véspera de manhã.

    Agora eles ouvem os suspiros das palmeiras imperiais azuis, acompanhando-as com sua orquestra de estalidos e cancionices. O mar, vagaroso, bate lentamente na praia, em maré baixa, desequilibrando os caranguejos e siris nos arrecifes. O mar, ele também queria ouvir a história das palmeiras, risonhas em suas memórias. E ele vai, e volta, vai, e volta...

    ***

    O apito da maria-fumaça invadiu o silêncio da região, assustando cada átomo que compunha a paisagem, e fazendo tremer a terra e seus habitantes microscópicos. Vinha feroz, veloz e implacável, atravessando todas as terras por onde a feia estrada de ferro havia crescido. Sua fumaça era cinza e seu corpo de serpente, cor de ferrugem. Sua maquinaria, se pudesse ser tocada, estaria incandescente e raivosa. Mas a maria fumaça fluía despreocupada com tudo isso.

    O maquinista berrava enquanto a fornalha era mantida acesa, e os trabalhadores sujos colocavam mais carvão nela. As palmeiras imperiais azuis, ao longe, pareciam olhar com despezo para a máquina de ferro que invadia seu território e seus ocupantes, sujos e primitivos. Presas, porém, àquela mesma terra para sempre, imaginavam, solitárias em suas cascas, a que lugares aquela feia estrada levava, e para onde aquele monstro de barulho e ferro seguia.




    N/A: Sonho de um ano atrás.

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