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    O Profeta


    O PROFETA

    Sentou no banco da praça
    feito rei em salão de ouro.
    Olhou para os lados
    feito bêbado a beira do choro.
    Alçoou vôo certeiro
    feito pássaro-agouro.
    Vomitou palavras
    feito quem vomita bolo.
    Cuspiu no meio da praça
    feito homem que é louco.
    Beijou a moça da esquina
    feito rapaz direito e formoso.
    Cantou uma canção cretina
    feito Chico e um só coro.

    Cantou mais de mil músicas
    num só segundo fugaz
    Correu desatinado
    pela rua, a procura de paz.
    Atravessou a ponte
    como se voltasse pra trás.

    ***

    Matou metade dos homens
    que ainda hão de surgir.
    Quebrou milhares de casas
    Só pra poder desistir.
    Matou canalhas por migalhas
    só pra poder existir.

    Vagou só pela praça
    feito profeta banal.

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